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domingo, abril 28, 2024

‘Não estamos vivendo, mas sobrevivendo’, diz pai de João Pedro, morto há quase 1 ano em SG

A professora Rafaela e o motorista Neilton mostram uma foto e um caderno do filho: família vive entre a saudade e o medo de que o caso fique impune (Foto: Lado de Cá)

A morte do estudante João Pedro Mattos Pinto, de 14 anos, ocorrida no dia 18 de maio de 2020 no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, trouxe para os pais, a professora Rafaela Coutinho Matos, de 37, e o motorista Neilton da Costa Pinto, de 41, dor, saudade e um profundo silêncio. O mesmo silêncio com o qual a Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI) cerca o caso, que completa 1 ano daqui a 27 dias.

O Lado de Cá esteve no Salgueiro e visitou a casa onde João Pedro morava com os pais e a irmã de 5 anos. Em 1h de conversa, o casal contou como tem sido a vida desde aquela tarde, quando o filho foi atingido no abdômen por um disparo de fuzil 556 na casa do tio, onde foram encontradas 72 perfurações de balas. No momento, havia uma operação conjunta entre policiais civis e federais.

Assista ao vídeo:

“Em todo esse tempo, só a Defensoria Pública entrou em contato com a gente e ofereceu auxílio psicológico”, revelou Rafaela.

O delegado Allan Duarte, que na época era o titular da DHNSGI, foi afastado da investigação 36 dias depois por ter participado da operação, que tentava cumprir dois mandados de prisão contra Ricardo Severo, o Faustão, chefe do tráfico de drogas no complexo.

A reconstituição do crime, feita em junho do ano passado por determinação do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa (DGHPP) da Polícia Civil, foi realizada por Leonardo Afonso, que também integra a especializada.

“A gente sabe que teve a reprodução simulada do crime e eles chegaram à conclusão que não houve confronto na casa, desmontando a versão dos policiais que participaram da operação e que foram taxativos em afirmar que uma pessoa havia pulado o muro da casa. Ou seja, eles (os agentes) entraram na residência onde o meu filho estava já atirando”, afirmou a mãe.

Investigação ainda depende de laudos

Em setembro, a DHNSGI passou a ser comandada pelo delegado Bruno Cleuder de Melo, transferido da 134ª DP (Campos de Goytacazes). O novo titular da especializada falou sobre as investigações com o Lado de Cá.

“Eu preciso do laudo da reprodução simulada, que ainda não está pronto, e foi feito pelo Ministério Público, para que a gente possa concluir o nosso aqui na DH. Vale frisar que estou aguardando também uma contraperícia de balística, realizada pelo Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (Gaesp) do MP, para saber de qual arma dos policiais partiu o tiro que vitimou o João Pedro. Só falta isso para o relatório final”, explicou.

Enquanto a investigação não é concluída por depender de detalhes técnicos, a saudade e o medo de que a morte do menino fique impune aumentam a cada dia, construindo uma rotina de tristeza para a família.

“Nossos dias têm sido difícieis. Na verdade, aquele tiro dado pelo policial da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) não tirou só a vida do João, mas a nossa também. Não estamos vivendo, mas sobrevivendo”, lamentou Neilton.

O Lado de Cá entrou em contato com o Ministério Público para saber sobre os laudos, mas até o fechamento desta reportagem não teve retorno.

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