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sexta-feira, abril 26, 2024

‘Das cinzas voltar’… História da campeã Viradouro será contada em exposição no MAC Niterói

O casal de mestre-sala e porta-bandeira Rute Alves e Julinho ensaiando nas ruas de Niterói debaixo de chuva: resiliência e alma lavada. (Fotos de divulgação)

O público poderá visitar, a partir de 21 de janeiro, a exposição “Das cinzas voltar, nas cinzas vencer, Viradouro de alma lavada”, no pátio do Museu de Arte Contemporânea (MAC), em Niterói. Trata-se de uma intervenção ao ar livre a partir de uma grande estrutura circular, que representa o ciclo da vida e do Carnaval.

Fênix, ser mitológico, símbolo do renascimento e da esperança. Alegoria da Viradouro na sua volta ao Grupo Especial em 2019

O projeto, idealizado pelos fotógrafos Renata Xavier e Leandro Lucas, não deixa passar em branco uma festa tão importante e simbólica para o povo fluminense e para o próprio brasileiro: o Carnaval. As mais de 400 fotos presentes na mostra começaram a ser produzidas pela dupla de fotógrafos em 2017, quando a agremiação de Niterói, ainda na Série A, se preparava para o espetáculo de 2018. A Viradouro conquistou o título que garantiu o retorno ao Grupo Especial.

No ano seguinte, já na disputa com as principais escolas e com um desfile arrebatador, foi vice-campeã, feito inédito na história dos espetáculos na Marquês de Sapucaí, já que nunca uma agremiação havia conseguido esta colocação no retorno ao grupo de elite. O verso forte do samba para o enredo de 2019, que abordava a superação (”Das cinzas voltar, nas cinzas vencer”), dá título à exposição.

No último Carnaval, mais uma quebra de paradigma: sendo a segunda escola a desfilar na noite de domingo, posição considerada ingrata no universo carnavalesco, a vermelho e branco saiu aclamada da pista e o favoritismo se confirmou na Quarta-Feira de Cinzas, quando foi consagrada como a grande campeã.

Na exposição, os visitantes vão poder viajar nas imagens dos preparativos do barracão, quadra, ensaios de rua e dos espetáculos apresentados pela Viradouro no Sambódromo – em seus marcantes últimos três desfiles – bem como conferir os registros da festa de comemoração do título, o segundo conquistado no Grupo Especial.

A escola do Barreto pede passagem no Sambódromo

Diversos painéis com até sete metros de comprimento cada estarão dispostos em círculos, por onde o público poderá, literalmente, caminhar entre eles, descobrindo os bastidores dessa história de resistência e luta da escola do Barreto, além de acompanhar, através de uma contagem regressiva, como é feita a construção do Carnaval de uma grande escola de samba.

O que está por trás? As pessoas, os profissionais, a comunidade, um trabalho feito por milhares de mãos com muita criatividade, embalado pela fantasia e, principalmente, pela esperança. O formato circular da exposição é uma alegoria ao Carnaval, à vida e ao eterno recomeçar. A mostra terá como pano de fundo a paisagem deslumbrante do Rio de Janeiro e a obra icônica de Oscar Niemeyer.

A escolha do MAC para o lançamento dessa exposição, segundo Renata e Leandro, se dá por inúmeros motivos: o fato de ser um local de interseção, um ponto de encontro cultural de Niterói. Pelo espaço, passa um público heterogêneo que inclui a população de alta e baixa renda da cidade, bem como turistas de todo o mundo devido à importância nacional e internacional que o museu possui. A localização privilegiada com paisagem cinematográfica do Rio de Janeiro e a arquitetura circular em forma de obra de arte de Niemeyer. Estabelece-se aí um elo fundamental para a exposição: Niemeyer era apaixonado pelo samba e é o mesmo arquiteto que projetou o Sambódromo do Rio de Janeiro, palco maior do Carnaval no mundo.

A ganhadeira e a força da mulher, em 2020

“2020 foi um ano muito atípico. Logo após a vitória, o barracão da Viradouro foi atingido por um incêndio de grandes proporções que deixou em cinzas boa parte da sua infraestrutura. Uma pandemia global afetou todas as pessoas e países provocando muito sofrimento. O mundo do samba foi atingido em cheio por essa situação sem precedentes. Pela primeira vez desde que foram oficialmente criados, em 1932, não haverá desfiles em fevereiro. No meio dessas cinzas, buscar sobreviver, renascer. A esperança é o que move a Viradouro, o Carnaval e todos nós”, explica Renata.

Os registros fotográficos dos últimos anos da Viradouro não estarão disponíveis somente no MAC. O público terá ainda um acervo iconográfico com as milhares de imagens produzidas para esse projeto, que poderá ser acessado através de QR codes impressos na exposição para que os integrantes da escola, da comunidade e a população possam procurar e compartilhar suas imagens nos desfiles, ensaios e em todos os eventos fotografados por Renata Xavier e Leandro Lucas. O virtual e o real poderão interagir através das mídias sociais, hashtags e instagram. A conta oficial da exposição no instagram é @dascinzasvoltar e o site: http://www.dascinzasvoltar.com.br .

Os autores Renata Xavier e Leandro Lucas

O casal de fotógrafos Renata Xavier e Leandro Lucas, na Praça da Apoteose, no final do desfile campeão da Viradouro, em 2020 (Foto: Divulgação)

Ela é fotojornalista, nascida em Niterói, cursou Cinema e Publicidade na UFF, trabalhou no jornal “O Globo” e para as revistas das Editoras Abril e Globo. É uma das mais premiadas fotógrafas brasileiras da atualidade, com diversos prêmios nacionais e internacionais, palestrante em congressos e universidades, e influencer da multinacional japonesa Nikon para a América Latina e partner da européia DreambooksPro.

Ele nasceu na capital fluminense e há anos mora em Niterói. Estudou engenharia civil na UERJ e fotografa há 20 anos. Palestrou em congressos de fotografia e suas imagens foram premiadas no Brasil e no exterior. Algumas imagens da Viradouro incluídas na exposição foram premiadas pelo Prix de la Photographie Paris.

Os dois são um casal há 27 anos e, juntos, fotografam pequenos e grandes eventos pelo Brasil e pelo mundo.

O Carnaval é a maior festa da Terra, por isso os dois fotógrafos resolveram encarar o desafio de fotografá-lo através da escola de samba da cidade em que vivem: Niterói. Os registros do cotidiano da Viradouro, escola do coração deles, teve início quando a agremiação ainda integrava o grupo de acesso. Os dois foram surpreendidos pela garra, força, paixão e determinação de todos os integrantes, o famoso “chão” da escola. O que começou como projeto pessoal de ambos tornou-se um registro histórico do Carnaval, já que a escola quebrou paradigmas, emplacando uma sequência inédita de vitórias. Num exemplo de resiliência, nunca se abateu com problemas, desafios, tensões, transformações e adversidades.

A escola e sua comunidade sempre foram conscientes que a dor faz parte da trajetória cíclica da vida. Caíram, levantaram, caíram novamente e perseveraram, se reergueram e seguiram adiante olhando para frente e repetindo o lema que é quase um mantra dentro da escola: Avante, Viradouro!

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