Em reunião extraordinária nesta segunda-feira (26), técnicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) votaram de forma unânime para que a autarquia não libere o uso emergencial e a importação da vacina russa Sputnik V. Entre as justificativas estão a falta de relatórios específicos sobre os testes da vacina e o perigo de o adenovírus usado na vacina para carregar o material genético do coronavírus se replicar e infectar órgãos e tecidos. As prefeituras de Niterói e Maricá haviam manifestado interesse em importar o imunizante.
“Existe grande potencial de liberação de vacinas que não sejam semelhantes às estudadas no estudo clínico e que apresentem problemas. Um ponto de grande preocupação para a Anvisa é a ocorrência de adenovírus replicantes na fórmula”, explicou o relator do processo Alex Machado Campos.
Os relatórios também citam as unidades industriais sem certificação divulgadas ou confirmadas, que vão ser utilizadas como linhas de produção, e que, dos 28 países com contratos, 23 não iniciaram a vacinação. No geral, a falta de documentos técnicos, que segundo os funcionários da Anvisa são de grande importância na análise das normas sanitárias e de saúde pública para o parecer, formam o conjunto de impedimentos para uma decisão favorável aos pedidos de liberação de uso e importação da vacina.
Os técnicos falaram por cinco horas. Os relatórios divulgados informaram que os setores responsáveis da agência fizeram buscas e contatos com várias autoridades de diversos países para tentar achar o relatório técnico principal com as informações relevantes do imunizante e seus fabricantes, mas nada foi encontrado. Nem os contatos com o governo da Argentina, que já está usando o imunizante, revelou detalhes técnicos da vacina.
Segundo a Anvisa, as informações conseguidas com os técnicos brasileiros que visitaram a Rússia na semana passada foram parciais e ainda com parecer negativo. A visita ao laboratório Gamaleya, responsável pelo controle de qualidade, foi vetada e outras instalações não atendem as normas de segurança. (das sete visitas previstas, apenas três foram autorizadas).
A decisão da Anvisa foi unânime e o resultado vai ser encaminhado para o Supremo Tribunal Federal (STF).
Até o momento são 14 estados, além de Niterói e Maricá, que estão tentando importar a vacina russa.
O perfil da Sputnik V postou no Twitter nesta segunda-feira (26) mensagens citando a pressão do governo norte-americano contra a vacina. Oa russos também alegaram que que a Anvisa recebeu mais documentos do que outros 61 países para autorizar a vacina.
A Sputnik V compartilhou com a Anvisa todas as informações e documentações necessárias, muito mais do que o utilizado para homologar a Sputnik V em 61 países. Esperamos que a ciência, e não a pressão de outro país, seja usada para a tomada de decisão.
👇https://t.co/V8XgTrXcWw— Sputnik V (@sputnikvaccine) April 26, 2021