Um paciente de Maricá traz para as estatísticas da pandemia uma das mais longas batalhas contra a Covid-19 do município. O ex-morador de rua, Jorge Luiz Machado, de 59 anos, ficou internado no Hospital Municipal Dr. Ernesto Che Guevara do dia 07 de setembro de 2020 até 10 de março de 2021, ou seja, 185 dias, tornando-se um símbolo da importância de um sistema de saúde eficiente e humanizado. Sua alta foi fortemente comemorada por amigos e profissionais de saúde da unidade hospitalar.
“Em Maricá, realmente lutamos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Acreditamos nele. E a história do paciente Jorge é a prova disso”, afirmou o subsecretário de Saúde da Rede de Urgência e Emergência da SMS Maricá, o médico, cientista, pesquisador e professor, Marcelo Velho. Marcelo ressaltou que a Rede de Urgência e Emergência (RUE) tem a finalidade de articular e integrar todos os equipamentos de saúde com o objetivo de ampliar e qualificar o acesso humanizado e integral aos usuários em situação de urgência e emergência.
“O Jorginho, como o chamávamos no setor, veio da emergência para a gente. Foi um paciente grave, teve relato de parada cardiorrespiratória da unidade de origem, ficou bastante tempo no CTI. Precisou fazer traqueostomia. Uma vez que reabilitou a parte respiratória, ele veio para a Semi-Intensiva, quando começamos o trabalho de reabilitação”, contou Tami Vieira, médica da Semi-Intensiva.
“Queríamos que ele recuperasse a função de deglutição, mas ele não evoluiu de forma favorável. Vimos que ele havia feito uma lesão de traquéia e tivemos que fazer uma IGTT (procedimento cirúrgico chamado gastrostomia, feito quando o paciente, por vários motivos, não consegue receber o alimento via oral). Durante esse tempo todo de internação, o Jorginho gostava de brincar, embora não conseguisse se comunicar bem por palavras. Como ele não tem família, pelo menos não presente, apenas amigos, acabamos criando um vínculo de acolhimento ainda maior. A alta dele foi uma conquista e uma vitória para todos nós. Tínhamos essa preocupação com ele no pós”, relatou a médica.
Para a assistente social, Karine Bessa, Jorge Luiz é o retrato da importância do SUS. “Ele Ficou 185 dias sendo acompanhado pela equipe médica, de enfermagem e multiprofissional (fisioterapeuta, odontologista, assistente social, nutricionista e psicólogo). Recebendo o atendimento de excelência, universal e gratuito”, lembrou a assistente social, explicando que o papel do Serviço Social nos hospitais é de suma importância e garantido pelo SUS.
“A unidade hospitalar é um espaço onde as pessoas, em diversas expressões da questão social, estão presentes. Pessoas em vulnerabilidade econômica, sanitária, familiar e social, que impactam na saúde e nas condições para o devido tratamento”, explicou Karine. “O Serviço Social atua conectando pessoas em situações de vulnerabilidade e exclusão social aos seus direitos como cidadãos, apoiando, assim, o seu desenvolvimento pessoal e a integração social”, acrescenta.
Atualmente, Jorge Luiz se recupera das sequelas pós Covid no abrigo casa de repouso Lar Betel, em Inoã. A casa que existe há cerca de 20 anos é administrada pela pastora Célia Regina, por seu filho, o bispo Neilton Pereira e sua esposa, a bispa Marcia Pereira, todos amigos de longa data do paciente.
“Conheço o Jorge há 30 anos e o tenho como um filho. Felizmente ele está se recuperando bem. Ainda tem dificuldade na fala e nos movimentos, mas já temos marcado a visita da fonoaudiologia e da fisioterapia, tudo aqui pelo Posto de Saúde de Inoã”, contou Célia Regina. “Não tenho nota para dar à equipe de profissionais do Hospital Che Guevara. Cada profissional ali lutou pela vida do Jorge. Não fizeram discriminação pela história de vida dele e em nenhum momento a equipe do Che desistiu do Jorge”, contou emocionada. “Estamos seguindo todos os cuidados solicitados pelos médicos. Jorge não tem febre, segue se alimentando por sonda e a cada dia ela ganha mais força. Logo ele voltará a andar e a falar”, acredita a pastora.
“Na minha avaliação, baseada na experiência vivida, o atendimento da saúde pública de Maricá é de excelência. Não fica devendo nada para a rede particular. Muito pelo contrário, até supera”, elogiou Neilton Pereira, que afirma ter por Jorge um carinho de irmão.
Neilton contou que a assistente social do hospital o mantinha informado diariamente. “Às vezes, me ligava só para saber se o médico já tinha feito contato comigo. Tive notícias do Jorge todos os dias. No dia em que o Jorge recebeu alta, todos ficamos muito emocionados, comemoramos muito e a equipe do hospital vibrou com a gente”, lembrou o bispo.
Já a bispa Márcia Pereira afirmou que o atendimento prestado no Hospital Che Guevara, devolveu a ela a esperança na saúde pública. “A saúde de Maricá salva vidas. A recuperação do Jorge mudou a ideia de que quem vai para um hospital público, vai morrer. O atendimento que o Jorge recebeu nos trouxe de verdade uma fé ainda maior nos nossos profissionais da saúde”, disse Márcia.