Por Marcos Vinicius Cabral
A Segunda Guerra Mundial deixou um hiato de oito anos sem Copa do Mundo na década de 40 e causou estragos irreparáveis por onde passou. Países como Alemanha, Argentina e Brasil queriam sediar o evento, mas apenas o último manteve-se firme em seu propósito.
Dois estádios foram construídos para receber os jogos – Maracanã, no Rio de Janeiro, e o Independência, em Belo Horizonte – enquanto outros nas quatro cidades-sede – Curitiba, Porto Alegre, Recife e São Paulo – foram reformados.
Apenas 13 seleções das 33 inscritas para as eliminatórias se classificaram, e o quarteto das favoritas era composto pelo Brasil, Espanha, Inglaterra e Itália. Com uma mescla de muitos jogadores cariocas e poucos paulistas, a estreia se deu contra o México e os 4 a 0, em pleno Maracanã, ativaram o inconsciente de alguns torcedores.
Na sequência, um empate com a fraca Suíça no Pacaembu, em São Paulo, e uma vitória contra a Iugoslávia, fez o Brasil avançar. Porém o melhor futebol jogado era da Espanha, que passou a ser chamada de Fúria com avassaladoras três vitórias – uma inclusive contra a forte Inglaterra.
Com isso, Brasil, Espanha, Suécia e Uruguai fariam o quadrangular final, no qual todos se enfrentariam e quem somasse mais pontos seria o campeão. O clima de já ganhou tomou as ruas, e os jornais davam manchetes comemorando o tão aguardado título. Um empate contra o Uruguai seria o suficiente para a conquista.
Naquele domingo aprazível de 16 de julho, quase 200 mil pessoas foram ao Maracanã para tirar o nó da garganta e gritar pela primeira vez como campeão.
Mas dentro de campo, a coisa não foi tão fácil assim, graças ao atacante uruguaio Alcides Ghiggia, que deu passe para um gol e marcou o outro na vitória por 2 a 1. Naquela tarde, o silêncio fúnebre de quase 200 mil torcedores ecoa até os dias de hoje, e é considerado uma das maiores tragédias brasileiras de todas as Copas do Mundo.
O silencio da derrota – Enquanto pessoas se olhavam nas arquibancadas do Maracanã, sem entender o que estava acontecendo, nenhum outro silêncio foi tão atroz e que tenha causado tanto estrago em um povo como aquele naquela tarde.
O placar de 2 a 1 para o Uruguai deu vida ao “Maracanazo”, termo criado no choro coletivo dos brasileiros. Até o presidente da Fifa, Jules Rimet, ficou perplexo com o resultado do jogo e, sem dizer uma palavra, apertou as mãos dos uruguaios e entregou a taça aos bicampeões mundiais.
Curiosidade – Após a derrota para o Uruguai, a camisa branca foi aposentada definitivamente.
Fato histórico – A cultura sofria influência do rádio, através do qual as cantoras Emilinha Borba e Dircinha Batista eram preferência nacional e surgia de forma estrondosa Luiz Gonzaga.
País-sede – Brasil
Classificação Final –
Uruguai – Campeão
Brasil – Vice-Campeão
Suécia – 3º lugar
Espanha – 4º lugar
Iugoslávia – 5º lugar
Suiça – 6º lugar
Itália – 7º lugar
Inglaterra – 8º lugar
Chile – 9º lugar
Estados Unidos – 10º lugar
Paraguai – 11º lugar
Bolívia – 12º lugar
México – 13º lugar
Artilheiro – Com nove gols, o pernambucano Ademir Marques de Menezes, o Queixada, foi o maior artilheiro da Copa de 1950. Jogador, que combinava chutes precisos e arrancadas extraordinárias com a bola, fez muito pouco na fatídica derrota por 2 a 1 para os uruguaios.
Craque– Não há o que discutir: o grande jogador do torneio foi o atacante uruguaio Ghiggia. Da Celeste Olímpica, foi o único jogador a marcar gols em todos os jogos, além do principal: o segundo na vitória contra o Brasil.
Frase – “Vi um povo de cabeça baixa, de lágrimas nos olhos, sem fala, abandonar o estádio como se voltasse do enterro de um pai muito amado. Vi um povo derrotado, e mais que derrotado, sem esperança. Aquilo me doeu”.(Crônica de José Lins do Rego no “Jornal dos Sports”, no dia seguinte à derrota brasileira).
Zebra – Com um futebol primário, os Estados Unidos venceram com gol de cabeça do haitiano Gaetjens (que jogava com um visto provisório) a Inglaterra.
Bola – Com 12 gomos e fabricada em solo brasileiro, a bola tinha como diferencial uma câmara externa com válvula para preenchimento.
Cobertura – A Rádio Nacional inovava e fazia as narrações com os locutores Antônio Cordeiro e Jorge Curi, em cada metade do campo, em solo verde e amarelo.