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segunda-feira, abril 29, 2024

Pré-candidato a prefeito de São Gonçalo, médico Dimas Gadelha quer ‘copiar’ o que deu certo em Maricá

Nos últimos 20 anos os eleitores de São Gonçalo elegeram dois médicos e dois professores para governarem a cidade como prefeitos: Henry Charles, Aparecida Panisset (dois mandatos seguidos), Neilton Mulin e o atual, José Luiz Nanci. Passado esse tempo, as duas áreas, Educação e Saúde, continuam sendo as com maiores deficiências no município. Nas próximas eleições, a cidade pode ter mais uma vez um médico à frente da gestão municipal. O médico Dimas Gadelha, que atuou em áreas técnicas e como gestor na saúde do município durante todos esses governos, se apresenta como pré candidato pelo PT, e promete implantar políticas públicas que têm feito sucesso na vizinha Maricá, administrada pelo PT há 12 anos.

Lado de Cá – O senhor participou de alguma forma, e sempre na área da saúde, das últimas administrações da cidade, trabalhando com três prefeitos de correntes políticas diferentes. Agora, se apresenta como pré-candidato à sucessão de um deles. Como explicar isso para o eleitor?

Dimas Gadelha – Sou profissional da saúde desde 1998, quando me formei como médico. Desde então venho atuando na saúde de São Gonçalo, seja como médico plantonista, em postos de saúde prestando consultas, além de exercer cargos de apoio técnico, como coordenação ou diretor de unidades. Me especializei em Saúde Pública pela Escola, na Fiocruz; e em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas. Durante esse tempo, assumi somente um cargo que me proporcionou poder de decisão, o de secretário municipal de Saúde. Fui secretário por três anos, em dois governos diferentes, devido à minha capacidade técnica. Nesse período, implementei mais de 47 equipamentos de saúde, duas Unidades Municipais de Pronto Atendimento (Umpa), um centro de imagem, o Espaço Rosa (voltado para mulheres em tratamento de câncer), clínicas da Família (Mutondo, Barro Vermelho, Marambaia). Também inauguramos academias de saúde, o laboratório municipal, ampliamos as redes de saúde mental e bucal, entre muitas outras ações. É comum profissionais com formação na área médica trabalharem em diferentes governos. Como secretário busquei colocar em prática todos os projetos possíveis para melhorar o atendimento à população. O fato de ter atuado em diferentes governos me proporcionou enxergar os erros e acertos de cada um.

Lado de Cá – Outra guinada aconteceu no seu posicionamento político. Essa migração do DEM, um partido de centro-direita, por onde foi candidato a deputado federal nas últimas eleições, para o PT, um partido de esquerda, e justamente num momento onde o país vive uma polarização. Afinal, o senhor se considera de direita ou de esquerda?

Dimas Gadelha – Sempre atuei em cargos de apoio técnico, e nunca tive a pretensão de ser candidato. Mas a vida da gente é movida a desafios, e decidi ser candidato pela primeira vez em 2018, quando percebi, como secretário de Saúde, ser possível realizar muitas ações, pelo trabalho realizado e tem conhecimento de gestão. É possível, sim, implementar serviços e entregar equipamentos importantes para a população e fazer um trabalho decente. A decisão de ser candidato há dois anos surgiu após um convite de um grande amigo, Daniel Soranz, que estudou comigo na Fiocruz, e foi secretário municipal de Saúde do Rio de Janeiro. Ele tinha ligação com o DEM e veio o convite para ser candidato a deputado federal. Percebi que a partir daquele momento não me enxergariam mais somente como técnico e decidi buscar um partido que apresentasse a linha ideológica mais próxima à minha, e cheguei ao PT, através do convite do ex-prefeito de Maricá, Washington Quaquá, que me inspira confiança devido à excelente gestão naquela cidade. O perfil do PT une conceitos de equidade e justiça social, o que se enquadra muito nas ações dos profissionais da minha área.

Lado de Cá – Como médico sanitarista, qual a sua avaliação sobre como está sendo enfrentanda a pandemia de coronavírus, nos níveis municipal, estadual e federal?

Dimas Gadelha – Na minha visão, as três esferas governamentais estão falhando muito no combate ao coronavírus. Não existe diálogo entre os três níveis de poderes executivos. Se existisse, os recursos seriam melhor otimizados, e não haveria necessidade de implantar hospitais de campanha com custos altíssimos. Temos mais de 1.200 leitos inativos na rede federal. Se houvesse parcerias, essas estruturas poderiam ter sido reativadas e, posteriormente, continuariam a ser utilizadas. Será que o que está sendo gasto no hospital de campanha de São Gonçalo não poderia ter sido direcionado para reativar os leitos parados no INTO? E ainda deixaria um legado para a população. Sem transparência e falta de planejamento, a pandemia está chegando ao ápice e os leitos ainda não foram disponibilizados pelo Governo do Estado. O governo municipal, por sua vez, investiu os poucos recursos que tem em ações ineficazes do ponto de vista técnico, como as motos fumacê e o túnel de desinfecção instalado no pronto-socorro. Outra questão no município é a desorganização da prefeitura sobre a distribuição das cestas básicas para as famílias necessitadas e os alunos da rede pública de ensino. Faltam parcerias, diálogo e planejamento.

Lado de Cá – Quais são suas propostas para conseguir ter seu nome aprovado na convenção do PT como candidato à sucessão do prefeito José Luiz Nanci?
Dimas Gadelha – Quando pensei na possibilidade de ser candidato a prefeito de São Gonçalo, primeiramente vislumbro um plano básico com algumas metas que sejam viáveis com as condições financeiras e orçamentárias do município. E que essas metas possam impactar positivamente na realidade da cidade. Quando pensamos nessas políticas e metas e as desenhamos no papel, percebemos que esse trabalho já existe em Maricá, com a moeda social, mutirões de obras, o transporte gratuito para a população, que podem ser implantados em São Gonçalo. Então a nossa bandeira para ter o apoio do partido é exatamente essa: o modo PT de governar em Maricá, que é exitoso e serve como exemplo hoje em dia.

Lado de Cá – Como o senhor exemplificou, um dos modelos de administração dos governos do PT hoje é Maricá. Lá, o município conta com uma forte receita de royalties do petróleo. Como fazer em São Gonçalo algo parecido sem os mesmos recursos?

Dimas Gadelha – Quem conhece a história de Maricá, sabe que no início do governo do Quaquá, a cidade não recebia os royalties atuais. No entanto, isso não foi motivo para que ele deixasse de adotar políticas públicas importantes para os maricaenses. Nossa ideia é copiar algumas ações de Maricá, porém respeitando as características de São Gonçalo e, principalmente, as limitações financeiras e orçamentárias que o município tem. Com planejamento e gestão responsável, temos certeza ser possível realizar ações que podem mudar a vida dos gonçalenses. Um bom exemplo é a moeda social, com a qual podemos criar um projeto ligado à coleta seletiva do lixo na cidade, transformando os resíduos em renda para famílias, por meio da moeda local, e gerando novos recursos que cubram o próprio custo de coleta em toda a cidade. O passaporte universitário também pode estar ligado à moeda social, aos serviços de voluntariado. Pode-se criar milhares de vagas para os estudantes na própria cidade. São Gonçalo conta com R$ 1.5 bilhão de orçamento anual, sendo que aproximadamente metade disso vai para o pagamento de salários. Se conseguirmos reduzir pelo menos 5% do custo da folha salarial podemos direcionar para novos projetos de incentivos sobre geração de emprego e renda, assim como novas políticas sociais. Passaporte universitário, trabalho voluntário, moeda social e novas fontes de renda poderão ser interligados.
A ideia é ser criativo, adotar as políticas de Maricá as adequando à situação de São Gonçalo.

Lado de Cá – Para os leitores que ainda não o conhecem, faça um resumo da sua trajetória política desde a juventude. Foi militante do movimento estudantil?
Dimas Gadelha – Me formei em Medicina com 23 anos, em 1998. Foi uma fase bastante difícil. Morava em São Gonçalo e estudava no Rio, portanto, perdia muito tempo com o transporte público para ir e voltar todos os dias. Pouco depois da formatura, fui trabalhar como médico no Programa Saúde da Família, onde tive o primeiro contato com os princípios do SUS, como universalidade, equidade e integralidade. Me apaixonei por esta base de atuação e passei a estudar ainda mais. Fiz curso de Gestão em Saúde da Família (Uerj), depois Gestão em Saúde Pública (Fiocruz), Auditoria em Sistema de Serviço de Saúde (São Camilo), Administração Pública (FGV), curso de Investimento em Saúde (Fiocruz). Tive a grande oportunidade de coordenar a implantação do Programa Saúde da Família em São Gonçalo, que era o maior programa de saúde pública na região metropolitana (São Gonçalo foi a primeira a contar com essa cobertura). Daí em diante permaneci como técnico na Secretaria de Saúde desenvolvendo projetos e ações na cidade, interagindo com a assessoria técnica do Ministério da Saúde, em Brasília, para trazer recursos e programas para o município. Também fui presidente do Conselho Municipal de Saúde, cargo que abdiquei para assumir a secretaria. Até então, nunca havia tido relação política e atuava somente como técnico.
Viajei para alguns países e municípios brasileiros para conhecer melhor o sistema de saúde e me tornei especialista em gestão pública. Como disse, apenas de 2018 para cá surgiram as pretensões políticas. Desde então venho estudando muito outras áreas, como economia, transporte, social, coleta do lixo enquanto nicho econômico, entre outras áreas. Por estudar tanto e enxergar possibilidades, sei que é possível contribuir para que São Gonçalo seja um lugar melhor para a população viver.

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