Quando o Estado se ausenta nos seus deveres com a população, a própria comunidade age, movida pela preocupação com o coletivo, para o restabelecimento de uma sociedade mais justa e menos desigual. Na cidade de São Gonçalo, um projeto faz a diferença e transforma vidas de muitas famílias: são os Lutadores da Fé.
Na manhã deste sábado (24), três famílias vivendo em extrema pobreza no Lixão de Itaoca e três do Complexo do Salgueiro receberam cestas básicas e produtos de limpeza distribuídos pelo projeto social que há cinco anos atua no município.
“O projeto Lutadores da Fé existe desde 2016 e é a primeira vez na vida que vi uma situação de miséria tão impactante como nessa manhã. Viemos para assistir uma família, mas conseguimos ajudar mais cinco. É pouco, mas é o começo de um trabalho social que o meu projeto vai abraçar nessa comunidade”, afirmou Alex Sandro Pereira dos Santos, de 42 anos.
E completou: “Foi de doer o coração. Porcos mordendo e urubus bicando as pernas das pessoas que estavam no lixão à procura de restos de comida”, lamentou.
Alex Café, como é conhecido nessas andanças pelas comunidades gonçalenses, percorreu o lixão, visitou casas, ouviu histórias e presenciou cenas que dificilmente vão sair da memória.
“Dona Maria, uma senhora com o semblante morto e o olhar amargurado, pediu uma geladeira e uma cama para dormir com seu marido, doente, que estava eitado no chão rodeado por lixo e chorume. Que sofrimento! Que coisa triste!”, emocionou-se.
Já o agente comunitário Jeffferson Batista Souza, de 25 anos, que participou da ação ao lado de Alex Café, se indignou: “Visitando o lixão desativado, estivemos no antigo local de trabalho dos moradores que ali vivem, e não era cena de filme. Sobras de comida, mau cheiro, lamaçal, porcos, urubus, ratos, baratas, lacraias e o pior: o descaso do poder público que não enxerga essas pessoas”.
E prosseguiu: “Ninguém do Poder Legislativo tem a coragem de vir aqui e ver gente lavando panelas na lama para catar comida no lixo. Desumano é a forma com que tratam os moradores do lixão de Itaoca, tirando dos catadores o seu sustento”, revoltou-se.
O Lixão de Itaoca esteve em atividade por cerca de 30 anos e foi fechado em 2012, afetando mil famílias que moram em situação de grave vulnerabilidade social no entorno do aterro.
Ex-catadores do aterro sanitário de Itaoca cobram assistência do governo. Um morador, que pediu para não ser identificado, informou que algumas famílias foram cadastradas em programas sociais do governo federal, como o Bolsa-Família. Mas fez uma grave denúncia:
“Um político esteve aqui e recebeu o dinheiro de algumas famílias e foi embora”.