A gravidez de Bruna da Cunha Soares, de 26 anos, corria bem até o oitavo mês de sua gestação, quando ela começou a sentir febre e tosse, dois dos sintomas da temida Covid-19. Ela se preparava para ter a criança na maternidade São Francisco e, preocupada, foi até a unidade para buscar tratamento. Mesmo ardendo em febre, foi mandada de volta para casa apenas com a receita de um antialérgico.
Não satisfeita com o atendimento, ela procurou o Posto de Atendimento Médico de Neves, em São Gonçalo, onde fez um teste rápido para a doença que deu negativo. No entanto, ela foi informada de que se o coronavírus ainda estivesse em estágio inicial, o teste talvez não detectasse. No mesmo dia, a jovem passou mal e retornou à maternidade, onde recebeu a indicação de tomar o remédio Azitromicina por 10 dias. O remédio não adiantou muito e a paciente foi informada de que o teste conhecido como swab seria o mais indicado para o caso.
O único local na cidade que realiza esse tipo de exame na cidade é o Centro de Triagem ao coronavírus no Zé Garoto, referência no combate à Covid-19 em São Gonçalo. Bruna e seu marido fizeram o exame. Antes que o resultado saísse, a situação da gestante piorou e, no dia 25 de agosto, ela precisou fazer um parto de emergência no Hospital Icaraí, em Niterói.
Tudo correu bem no parto, mas, por ser prematuro, a bebê foi para UTI Neonatal e a paciente para a UTI. Após alguns exames, foi identificado um comprometimento de cerca de 50% do pulmão de Bruna. No entanto, os médicos do hospital particular explicaram que, para dar início ao tratamento correto da Covid-19, eles precisavam do resultado positivo do swab.
O resultado do exame feito no dia 21 foi prometido para o dia 28. Quando o marido de Bruna chegou ao Zé Garoto para receber o diagnóstico do exame foi informado de que só poderia ter acesso ao documento cadastrando um e-mail. O procedimento foi feito, ele recebeu o positivo no seu exame, mas sua esposa não conseguiu acesso ao resultado.
A falta do diagnóstico deu início a uma verdadeira peregrinação atrás do exame. Foram várias as respostas desencontradas da unidade que disse que o nome da paciente estava errado e inventou dezenas de outras desculpas para não entregar o resultado. Por fim, funcionários do posto disseram que o documento demoraria até 30 dias para ser entregue.
A mãe de Bruna, Fabiana Almeida, se diz indignada com a situação. “Os médicos falaram com a gente que não podem entrar com o tratamento de corona sem o exame. Ela está sendo tratada como pneumonia. Estamos em situação difícil porque o corpo dela começou a reagir, mas o vírus pode se mostrar resistente e reverter o quadro de melhora. Precisamos do resultado do exame que sumiu com urgência”, conta, indignada.
O auge do descaso aconteceu quando o marido de Bruna voltou à unidade pública para fazer um apelo e dizer que se tratava de um caso de emergência. O cônjuge da paciente foi ironizado por um funcionário.
“Não podemos fazer nada. Liga para o Ministério de Saúde e reclama lá”, disse o atendente.
Neste sábado, a situação piorou. O marido de Bruna recebeu um email com o resultado do exame de uma pessoa chamada “Bruna da Cunha Almeida, de 36 anos, que colheu o exame no dia 24 de agosto dizendo que era o da paciente. Só que a paciente que precisa do exame se chama Bruna da Cunha Soares e tem apenas 26 anos.
A situação revolta a família da puérpera, que, até agora não conseguiu ver o rosto de sua filha. “Minha filha era ansiosa e agora está ainda mais porque não pôde ver sua própria filha, por conta da Covid-19, Se o resultado fosse negativo, ela poderia ver sua cria e, se for positivo, ela pode se curar mais rapidamente com o tratamento adequado”, conta a mãe.
O Portal Lado de Cá tentou contato com a Secretaria Municipal de Saúde, mas ainda não obteve resposta. Assim que houver retorno, a matéria será atualizada.
