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quarta-feira, abril 24, 2024

Marinho foi gente. Ou melhor, foi multidão

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Marinho me fez torcer para o Bangu sendo rubro-negro. Gostava de vê-lo com o uniforme tradicional de listras brancas e vermelhas na vertical, embora a branca do alvirrubro suburbano seja linda como a alma caridosa do camisa 7 foi. Gostava também e confesso que me divertia com isso de vê-lo jogando.Mas não perdia por nada quando o time de Moça Bonita jogava e mais ainda quando ele (Marinho) ia comemorar seus gols próximo da bandeirinha de escanteio com a sambadinha clássica que reservava sempre para o ‘Grand Finale’.Meu Deus, o que era aquilo?  Era Marinho com uma alegria comprovada na dobradinha de pernas num giro de 180° graus quando finalizada. Ano passado ao escrever sobre o ponta-direita, pude conhecer um pouco de Marinho, algumas ex-esposas, três de seus filhos e uma história incrível de vida. Como a infância, quando morava com treze pessoas num terreno baldio em Santa Efigênia, Belo Horizonte, e comia o que recebia dos feirantes.A mãe, dona Efigênia, que trabalhava lavando os cadáveres no necrotério da HPM (Hospital da Polícia Militar) para sustentar tanta gente, sofria horrores para criar Marinho.Mas, mesmo enfrentando tantas intempéries – alguém acha que era fácil se amontoar com os outros moradores do casebre para enfrentar a intensa chuva e o frio castigante?, ou passar 730 dias em um reformatório da PM apanhando, sofrendo humilhações, castigos, cicatrizes no corpo e feridas na alma, onde com medo urinava na cama e chorava compulsivamente lágrimas já secas em seus olhos? Não, não foi fácil, mas ele venceu. E por mais que pareça estranho, foi longe. Se tornou profissional, jogou no Bangu, chegou à Seleção, recebeu de Zico a ‘Bola de Ouro’ como o melhor jogador em 1985 e foi vice-campeão Brasileiro.Fez dinheiro e perdeu.Fez fama que ficou no passado quando podia fazer o bem sem olhar a quem.

“Marinho costumava comprar cestas básicas e botijões de gás para distribuir após os treinos em Moça Bonita. Era comum ver a fila gigantesca que se formava nas dependências do clube esperando o treino chegar ao fim”, me contou sua ex-mulher Tânia de Oliveira de 59 anos, ano passado.

Mas a morte do pequeno Marlon Brando, de 1 ano e 7 meses, afogado na piscina da mansão onde morava, fez Marinho nunca mais ser o mesmo. E ele não foi mais o mesmo.
Na última segunda-feira (15), um dos maiores jogadores do Bangu se despediu da vida.
Longe dos aplausos, dos abraços calorosos dos companheiros após marcar mais um gol, e do grito da torcida nas arquibancadas do Maracanã, que na terça-feira (16) completou 70 anos. Ficam lembranças pelo menos para mim dos gols, do jeito moleque de jogar, da extravagância de quem viveu a mil por hora e o sorriso sincero, que talvez tenha sido o último grande gol que fez na vida.

Descanse em paz e que, no céu, você apronte das suas. Mas daqui da Terra, tenho certeza que você já chegou aí arrumando confusão, pois Félix, Djalma Santos, Bellini, Domingos da Guia, Leônidas da Silva, Everaldo, Carlos Alberto Torres, Altair, Jair Marinho, Assis, Washington, Ézio, Carlinhos, Dida, Gaúcho, Didi, Nílton Santos, Garrincha, Sócrates, Mário Sérgio, Denner e outros tantos, vão querer jogar do teu lado.

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