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quinta-feira, abril 18, 2024

Vozes da Bola: Pequeno em estatura mas grande como jogador que foi, Arturzinho, ídolo do Bangu, é nosso entrevistado da semana

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No dia 7 de setembro de 1983, há exatos 17 anos, o Maracanã foi palco da coroação de Artur dos Santos Lima, o Arturzinho, como o ‘Rei Artur do subúrbio de Bangu e Moça Bonita’. Pois é, como diz o ditado, ‘Rei morto, Rei posto’. Fazia pouco mais de três meses que um outro Arthur (Arthur Antunes Coimbra), o Zico, havia abdicado do trono de ‘Rei da Nação Rubro Negra’, depois de 10 anos de reinado, para tentar conquistar outros súditos na Itália, sede do antigo Império Romano.

Quis o destino que a prova de fogo de Arturzinho pela conquista do trono de Moça Bonita fosse contra a Nação Rubro Negra. E ele não decepcionou. Fez 4 gols, um deles digno de um ‘monarca da bola’, na histórica vitória do Bangu por 6 a 2 sobre o Flamengo pelo Campeonato Carioca daquele ano. No lugar de Zico, no Flamengo, quem ‘comandava’ com a camisa 10 era Júnior, mas Arturzinho e seus ‘cavaleiros’ não tomaram conhecimento.

Poucos torcedores sabem, mas esta disputa de ‘reinados’ que ocorreu entre o final da década de 70 e meados da década seguinte, está registrada nas páginas das crônicas esportivas. Os dois ‘baixinhos’ com o mesmo nome lideraram ’11 Cavaleiros da Redonda’ e se enfrentaram em vários campos de ‘batalhas’ do Brasil, um deles o ‘Maior do Mundo’, o Maracanã. De um lado, Arthur Antunes Coimbra, o Zico ou Galinho de Quintino, ‘Rei Primeiro e Único da Nação Rubro Negra’. Do outro, Artur dos Santos Lima, o Arturzinho, com súditos conquistados nos reinados das Laranjeiras, de São Januário, e outras ‘plagas’ do Nordeste e Centro Sul do Brasil, mas entronizado como ‘Rei Artur do subúrbio de Bangu e Moça Bonita’.
Com três anos de idade de diferença (Zico nasceu em 1953; e Arturzinho em 1956), e 10 centímetros na estatura (o Galinho tem 1,72 m, e Arturzinho 1,62 m), contam seus ‘súditos’ que os dois se igualavam em talento com a bola nos pés.

Bem, hoje o ‘Vozes da Bola’ presta reverência a um deles: Arturzinho. Ele conta como enfrentou o preconceito pelo pequeno forte físico para o esporte e venceu dificuldades para conquistar seu reinado no futebol. “”Ei, baixinho: pode sair! E não volte mais aqui!”, foi o que ouvi de um dirigente da Portuguesa-RJ, que aponto o portão de saída pra mim. Isso em 1969, quando eu tinha 13 anos e só tinha treinado 20 minutos”, relembra. Naquele dia, ele voltou para casa chorando e achou que só restava se contentar em jogar as peladas de rua no Caju, na Zona Portuária do Rio de Janeiro, defendendo o Redentor, time que Seu Amaro, o pai, tomava conta.

Mas, logo depois conseguiu uma chance de treinar na escolinha de futebol de salão do São Cristóvão de Futebol e Regatas, onde ficou de 1969 a 1974, e despertou a atenção de olheiros do Fluminense, onde começou sua carreira profissional.

Hoje, além de treinador, com vários títulos conquistados, Arturzinho é proprietário do Centro Esportivo Social Arturzinho, clube que disputa à série C do Campeonato Carioca.

Como vê o Bangu atualmente?

Eu torço muito pelo Bangu. Costumo dizer que no Rio de Janeiro, é o único clube que eu torço para que ascenda e volte a ser o Bangu da minha época, o que disputava títulos todo ano. Hoje, não concordo com a filosofia e nem com a maneira que o Bangu tem trabalhado nesses últimos anos. Na minha opinião, o clube deveria olhar mais para as categorias de base, formar atletas, e acho que o Bangu vem se contentando apenas em trazer, às vezes, jogadores que não atuam de forma convincente e com isso desperdiçando anos e anos sem revelar jogador nenhum. Acho que o Bangu, como uma equipe tradicional do Rio de Janeiro, deveria pensar mais na formação, e consequentemente, no futuro, com a contratação de atletas pontuais, visando formar grandes equipes e postular bons resultados, títulos, conquistas, e pensar na parte de cima da tabela. Hoje infelizmente, entra na competição para não cair, e isso não é da grandeza do Bangu.

Em 22 anos de carreira como jogador, tem duas partidas épicas e que são inesquecíveis para os torcedores do Bangu e do Vitória. Uma foi a goleada por 6 a 2 sobre o Flamengo, no Carioca de 1983, em que você marcou quatro gols. A outra foi o Ba-Vi histórico, em que o Vitória venceu por 1 a 0, mesmo com dois jogadores a menos. Foram realmente suas maiores atuações por clubes?

Foram dois jogos que marcaram muito a minha carreira, sem dúvida. Ganhar do Flamengo em 83, que era um equipe muito qualificada, em que eu tive uma noite muito feliz, fazendo 4 gols, isso fica marcado para o resto da vida e na história. O outro, foi um clássico entre Vitória e Bahia, em que o nosso time, com dois a menos, ganhou de 1 a 0, gol meu de cabeça. Então, são jogos inesquecíveis, e que o torcedor, tanto do Bangu, como o do Vitória, sempre comentam quando a gente tem oportunidade de reencontrá-los.

Ainda pensa em voltar a trabalhar como treinador?

Sim. Tenho inclusive um projeto, estou trabalhando diariamente nele e quando acabar essa pandemia, se aparecer uma oportunidade concreta e que valha a pena, eu posso voltar ao mercado. Eu acho que ainda tenho muito a dar ao futebol e espero que isso aconteça em breve, sem descartar em hipótese alguma, o meu projeto, muito pelo contrário, para que esse projeto seja mais conhecido e a gente possa revelar mais garotos para dar a oportunidades deles virarem profissionais.

Você teve uma passagem curta como treinador do Bangu em 2017, clube onde jogou por sete anos e se tornou ídolo. Por que ficou tão pouco tempo?

A minha passagem como técnico do Bangu, era a realização de um antigo sonho de dirigir o alvirrubro e tentar fazer história. Mas, infelizmente, tive alguns transtornos que fizeram com que ficássemos apenas um mês e pouco, onde a indisciplina imperava. Inclusive, um atleta de renome, queria mandar mais do que eu dentro da equipe, e para não prejudicar o clube e não me desgastar com esse atleta, achei melhor sair. Uma pena, pois é um clube que tenho um carinho muito grande e que eu queria muito fazer história como técnico. Mas Deus sabe o que faz.

Defina Arturzinho em uma única palavra?

Não consigo me definir em uma palavra, mas acho que a melhor definição seria: jogador de Deus! Com o meu tamanho, com o meu corpo, jogando de ponta de lança e ter feito história no futebol, só Deus mesmo, a quem tenho que agradecer sempre. Então, três palavras me resumem: jogador de Deus! Só Ele para justificar como eu virei jogador profissional de futebol.

Quem foi o seu melhor treinador?

Eu tive bons técnicos com quem eu tive a oportunidade de trabalhar. Posso citar o Edu, irmão do Zico, o Zagallo, outro ótimo treinador, o Didi, que foi sensacional, teve também o professor Pinheiro, que me marcou muito na época da minha formação no Fluminense e Seu Valdir e Seu Décio, ambos no São Cristóvão, pessoas que foram importantes para mim. Mas o que mais me identifiquei foi Carlos Castilho, ex-goleiro do Fluminense, com quem trabalhei três anos no Operário-MT. Ele me deu uma diretriz correta sobre o que era ser profissional, e dele, extrai alguns pontos e coloquei isso no meu trabalho como técnico de futebol.

Como tem enfrentado o coronavírus?

Estamos guardados dentro de casa e saindo muito pouco, com raras exceções, quando é necessário sair. Às vezes, caminho na praia, às vezes, tentando conviver com alguns amigos mas de uma forma diferente, em virtude da distância. É lamentável que esse vírus tenha nos deixado em casa, sem contato com as pessoas e a gente torce para que isso acabe logo, ou então, que fabriquem uma vacina o mais rápido possível para voltarmos a ter a nossa vida de volta, além é claro, da convivência com àqueles que
amamos.

Recentemente o futebol brasileiro perdeu a irreverência do ex-ponta Marinho, o Bangu perdeu um ídolo e você perdeu um grande amigo. Como foi jogar com ele e como era sua ligação com ele?

O Marinho foi um amigo e irmão, que o futebol me deu. Mesmo de longe ultimamente, eu sempre lembrava dele e torcia para que se recuperasse em todos os níveis, não só clinicamente, mas também emocional e de autoestima. Vou confessar aqui, que a primeira vez na vida que eu chorei por causa de um amigo, foi quando nos reencontramos em Belo Horizonte, depois de bastante tempo sem vê-lo. Marinho foi o maior jogador com quem eu tive o privilégio de jogar, apesar de ter jogado com Pintinho, Rivellino e outros grandes jogadores. Mas o Marinho era diferente, foi o mais completo de todos, em todos os sentidos, ele driblava, lançava, cabeceava, batia bem com os dois pés, era veloz, inteligente, sabia fazer gols como poucos e um jogador completo. Nunca senti tanto a perda de um amigo como foi a sua morte. No futebol, eu cumprimentava a todos normalmente, mas o Marinho, eu fazia questão de beijá-lo no rosto. Infelizmente, foi uma perda muito grande, um cara que só trazia alegria, um bom astral, uma irreverência, e uma felicidade que transbordava. Que Deus o tenha, pois ele merece o melhor lugar do mundo pela pessoa que ele era, por sua simplicidade e sua humildade.

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