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sábado, abril 27, 2024

São Gonçalo tem cerca de 5 mil pessoas em tratamento de HIV/Aids

Um transformista ‘couver’ da cantora Alcione, um vigia patrimonial, uma mulher ‘trans’ vendedora de cosméticos e uma educadora social. Quem vê esses quatro personagens tocando suas vidas, trabalhando e junto das suas famílias, não imagina, que, em comum, eles convivem, há anos, com HIV/Aids. Moradores de São Gonçalo, eles são, em sua maioria, anônimos e discretos, e ainda lutam contra preconceitos e estigmas. Contudo, essas ‘personalidades’ fazem parte de um universo de aproximadamente 5 mil pessoas, na cidade, que recebem tratamento antirretroviral, de acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde.

Conforme as Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS), no Brasil, em 2022, existiam 1 milhão de pessoas vivendo com o vírus, sendo 81% fazendo uso dos medicamentos. Deste número, 95% das pessoas em tratamento com antirretroviral foram classificadas como indetectáveis, ou seja, intransmissíveis, apontando, segundo especialistas, um avanço na luta contra o vírus. Para promover a igualdade nos tratamentos e acesso ao sistema de garantias de direitos, a UNAIDS celebra o 1º de Março como ‘DIA Zero Discriminação’. A data, chancelada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2014, é uma oportunidade de solenizar a diversidade e rejeitar qualquer tipo de preconceito.

Para o transformista M., de 52 anos, morador em São Gonçalo, a data remete à ideia de resistência e alegria de continuar vivendo. “Aprendi a ser forte. Não me escondo atrás dos panos. Contraí o HIV/Aids em um relacionamento casual. Naquela época, ninguém conhecia muito sobre a doença. Fui diagnosticada, inicialmente, com sífilis. Um médico japonês me orientou fazer novos exames. Ao receber o resultado, fui comunicada que havia sido infectada. Fiquei um pouco confusa, mas, logo me recuperei, e segui o tratamento com os coquetéis. Hoje, vivo minha vida normal. Não me arrependo de nada! Sou feliz e me cuido. Quem me vê no palco, conhece a minha energia”, disse a transformista, que brilha como ‘couver’ oficial da cantora Alcione.Já a vendedora de cosméticos L.K, de 26 anos, faz questão de ressaltar a

sua luta contra o preconceito e discriminação. “Sou uma mulher trans e em tratamento de HIV/Aids. Sofro um duplo preconceito. Onde vou, as pessoas me olham ‘atravessadas’. Durante os atendimentos nos equipamentos públicos, percebo que me tratam com desleixo. Contudo, mesmo com as dificuldades, ao saber que fui infectada, resolvi mudar minhas atitudes. Passei a ser mais responsável, me cuido, uso preservativos e zelo pela minha vida”, revela a vendedora, que chegou ao Rio, há 12 anos, oriunda de Pernambuco, e hoje faz tratamento psicossocial no projeto Rede Vida, capitaneado pelo Movimento de Mulheres em São Gonçalo (MMSG), que atende cerca de 100 pessoas. Construindo Novas Histórias, O projeto ‘Rede Vida Construindo Novas Histórias’, fundado, em 1994, pelo Movimento de Mulheres em São Gonçalo, tem o objetivo de ser uma rede de apoio às pessoas que vivem com HIV/AIDS em São Gonçalo e municípios adjacentes. Inicialmente, a ideia era mostrar a garra e a determinação das mulheres em defesa de uma vida livre de violência, discriminação e intolerância de qualquer natureza, no entanto, no decorrer das ações, o projeto agregou toda demanda, incluindo a população de homens e do público LGBTQI+.

O Rede Vida também visa contribuir com a comunicação e educação em saúde para a prevenção do HIV/Aids e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) voltadas à população residente em São Gonçalo e região. Além de oferecer atendimento psicossocial e assessoria jurídica, também promove atividades de educação em saúde, como: rodas de conversa, oficinas e lives, com objetivo de qualificar as informações e divulgar a importância da prevenção. Para a assistente social Ariana Santos, a informação é primordial no trabalho de prevenção. “É fundamental realizar escolhas de forma autônoma, informada, e que saibamos sobre os riscos das nossas ações e como lidar com as possíveis consequências. Para isso, é preciso acessar informação correta. Por isso, o Rede Vida existe. Para que a população tenha informação de como se prevenir das ISTs, onde ter atendimento, orientação de saúde, acesso à profilaxia e a todos os direitos humanos docampo”, reitera Ariana, doutoranda em Serviço Social pelo Programa de Pós-Graduação em Serviço Social pela Universidade do Rio de Janeiro(UFRJ).

A humanização no atendimento, no entanto, foi um dos pontos levantados pela assistente social Adriana Viana, que aponta a capacitação de profissionais nos equipamentos e na rede primária como fundamental para diminuir preconceitos e discriminações. “Os pacientes, em sua maioria, ainda se sentem constrangidos em procurar alguns equipamentos públicos, pois são estigmatizados. Portanto, a capacitação dos profissionais é importante para dirimir o preconceito e a discriminação. Um dos nossos lemas é mostrar aos pacientes que, mesmo com todos os desafios, a doença tem tratamento eficaz, com medicamentos cada vez mais modernos. Portanto, sempre digo:‘existe vida’, ressalta Viana.

Projeto ‘Rede Vida’ atende de portas abertas na sede do MMSG, na Rua Rodrigues da Fonseca, 201, Zé Garoto, São Gonçalo. Contatos pelo telefone (021 2606-5003). Email: redevidaexecutivo@gmail.com. Pessoas do sexo masculino concentram 65% dos casos diagnosticados. No que diz respeito aos grupos populacionais, de acordo com o Ministério da Saúde (2023), em 2022 o maior número de diagnóstico de HIV/Aids se concentrava nos homens, sendo 650 mil e 350 mil mulheres. Dentro do número total de 1 milhão de pessoas infectadas, os dados apontaram uma maior prevalência em alguns grupos, os que são denominados população-chave: 36,7% de prevalência em travestis e mulheres trans adultas, 18,4% em Gay se Homens que fazem sexo com outros homens, 6,9% em pessoas que usam drogas e 5,3% em mulheres ‘cis’ trabalhadoras do sexo.

SG: coquetel de remédios será substituído por medicamentos em dose única diária

A coordenação do Programa de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs/Aids) e Hepatites Virais da Secretaria de Saúde da Prefeitura de São Gonçalo recebeu, esta semana, o novo medicamento de dose única diária que vai substituir o coquetel de remédios para alguns pacientes que fazem tratamento de HIV em São Gonçalo. Ao todo, mais de 500 usuários serão beneficiados.O novo remédio é uma combinação inédita de dois medicamentos: os antirretrovirais dolutegravir 50mg + lamivudina 300mg. Antes, esse tratamento era feito com combinações de várias medicações. Inicialmente, o paciente precisa atender a alguns critérios para mudar a medicação: ter a partir de 50 anos de idade; adesão regular ao tratamento; carga viral menor que 50 cópias no último exame e ter iniciado a terapia até 30 de novembro de 2023. A nova medicação está sendo distribuída nas unidades de saúde que oferecem o tratamento para as pessoas que convivem com o HIV: Polo Sanitário Hélio Cruz, Alcântara; e Clínica da Família Dr. Zerbini, Arsenal.

(Fonte: site da Prefeitura de São Gonçalo). (Fonte: site oficial da Prefeitura de São Gonçalo).

Diagnósticos

O primeiro passo para saber se está com HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) é a testagem rápida. Ela é importante para o diagnóstico precoce das infecções e o início do tratamento adequado. Além do HIV, há testes para hepatites virais B e C e sífilis em todos os postos de saúde (com exceção da Unidade de Saúde da Família de Neves), de segunda-feira a sexta-feira, das 8h às 17h (exceto feriados). Caso o paciente teste positivo, ele realiza outro exame mais complexo para posterior tratamento. Os postos de atendimentos estão descritos no site da Prefeitura de São Gonçalo.

Equipamentos do MMSG atenderão vítimas em três municípios

A gestora do MMSG, Marisa Chaves, destacou a importância do projeto, Rede Vida no combate ao preconceito às pessoas com HIV/Aids e na defesa da população impactada pela falta de informação em saúde. “No ano em que a entidade está completando 35 anos de existência, saudamos à todas, todos e ‘todes’ pela resiliência e, sobretudo, por manterem o sentimento de indignação em alerta para manter viva a luta em defesa das pessoas que diretamente são impactadas pela falta de informação em saúde. Acreditamos e defendemos o respeito na diferença e dirigimos às nossas ações em busca da conquista de políticas públicas antirracistas e de equidade de gênero”, ressalta Chaves.A gestora prevê o aumento no aumento no número de atendimentos, sobretudo com a execução Projeto NEACA Tecendo Redes, em 2024, que conta com a parceria da Petrobras, e também receberá as demandas relativas às violências domésticas e gênero.

O projeto prevê a ação do NEACA (Núcleo Especial de Atendimento à Criança e Adolescente Vítimas de Violência Doméstica e/ou Sexual) que visa o atendimento às vítimas expostas às diversas formas de violência no âmbito da convivência familiar, priorizando a proteção social especial, através da oferta de um atendimento humanizado, que se baseie na metodologia da escuta ativa e sensível e na realização de um trabalho articulado em redes.

Além da expansão da cobertura territorial do NEACA, cabe destacar a ampliação da faixa etária dos participantes do projeto para atendimento especializado até 29 anos de idade. Serão equipamentos especializados para atendimentos continuados e interdisciplinares, articulados em redes, com os órgãos que integram o Sistema de Garantia de Direitos. Em caso de ajuda, o MMSG disponibiliza seus serviços, de segunda à sexta -feira, das 9h às 17hs, nos endereços abaixo: NEACA (SG)- Rua Rodrigues Fonseca, 201, Zé Garoto. (2606-5003/21 98464-2179) NEACA (Itaboraí)- Rua Antônio Pinto, 277, Nova Cidade. (21 989004246).

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