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sexta-feira, abril 26, 2024

Líder de projeto social é acusado injustamente de roubo e denuncia racismo em loja de São Gonçalo

Everton de Jesus, de 39 anos, é coordenador do projeto social Craque Nota 10, uma escolinha de futebol que revela jovens talentos e ajuda crianças carentes, no Colubandê, em São Gonçalo. Admirado por amigos e alunos, ele viveu na tarde do dia 14 de agosto uma das piores experiências de sua vida: a face impiedosa do racismo.

O coordenador combinou de se encontrar com dois jovens atletas de seu projeto no interior do Supermercado Guanabara, no bairro do Colubandê, em São Gonçalo, depositar um dinheiro na loteria e receber um pagamento de seus alunos por camisas de treino.

Um dos garotos precisava de uma pochete e ele decidiu entrar na Casa & Vídeo que fica no local para comprar um biscoito e trocar seu dinheiro. Quando entrou na loja, Everton estranhou a falta de atendentes no local e, quando finalmente encontrou um funcionário, ficou sabendo que a loja estava sendo assaltada e tentou sair. “Quando tentava fugir um assaltante me abordou e me manteve como refém dentro da loja com um dos garotos e outros quatro funcionários”, conta Everton.

Minutos depois, outro funcionário chegou correndo e disse que os bandidos tinham ido embora. Everton aproveitou o momento e saiu do estabelecimento com um de seus alunos avisando aos comerciantes do entorno da loja que ali estava havendo um assalto. O que parecia ser o alívio era apenas o início do inferno.

“Estávamos eu e os dois alunos descendo a escada rolante e quando chegamos perto da Leader e ouvi um segurança à paisana gritando “Negão, negão, negão!”. Ele já chegou apontando um 38 para a nossa cabeça, mandando a gente deitar. Eles falaram “vocês roubaram a Casa & Vídeo”, enquadraram a gente”, lembra, com sofrimento, Everton.

Do período em que foram acusados pelos seguranças até a chegada da polícia, os três sofriam com a revolta dos populares e a imensa quantidade de fotos e vídeos que eram feitos. “Foi um constrangimento muito grande, as pessoas filmaram aquela situação porque todos acharam que nós tinhamos roubado a loja, o que não era verdade”, se revolta.

Éverton, ao centro, foi acusado injustamente de roubo

“Como eu vou roubar uma loja com chinelo de dedo?”

Quase uma hora após a abordagem, viaturas da polícia chegaram ao local  e, após pegarem nossos documentos e olharem nossos telefones, sabendo que não haviam roubado nada, levaram os três para a delegacia para prestar depoimento, devido às acusações dos “Eu só repetia “Como a gente roubou a Casa & Vídeo se a gente estava como refém? Como eu vou roubar uma loja de bermuda e chinelo de dedo se o ladrão estava de calça jeans?”, lembra Everton.

Ao chegar a delegacia, muitas horas depois, o desengano foi finalmente desfeito e os policiais não registraram queixa contra Everton, nem nenhum dos meninos. Em depoimento, a Polícia descobriu que o verdadeiro ladrão era um homem negro que estava vestindo uma calça jeans e uma camisa polo.

“Eu saí da delegacia, cheguei em casa 19h, com medo de que alguém fizesse alguma coisa contra mim. O pessoal tirou foto e, a todo momento, eu tive medo disso chegar na mão da minha mãe e ela infartar”, conta Éverton.

Boletim de ocorrência mostra que constrangimento foi em vão e os três não foram culpados

Apesar do engano ter sido desfeito, os reflexos do caso de racismo se refletem nos três até hoje. Os dois menores precisam de acompanhamento psicológico depois de todo o trauma e Everton tem medo de entrar em qualquer estabelecimento da rede de lojas temendo represálias e mais acusações injustas. “Até hoje estamos convivendo com esse medo. Todo dia penso que se não tivesse a filmagem para provar, hoje eu estaria em Bangu e os meninos presos. Como eu ia me defender se isso acontecesse?”, conclui.

Everton acionou advogados e entrou com processos por racismo e constrangimento contra o Guanabara, a Casa & Vídeo e a empresa responsável pela segurança no local. Ele sabe que será uma batalha judicial longa e que pode custar caro, mas depois de toda a confusão, apenas um sentimento pode ajudá-lo a superar o episódio triste de preconceito: a justiça.

O Portal Lado de Cá tentou contato com as assessorias de imprensa dos estabelecimentos, mas não conseguiu uma resposta até o fechamento desta reportagem.

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