Muitos dos rodoviários da região que estão afastados do trabalho por depressão, causada pelo estresse do trânsito, pela violência, entre outros motivos, deveriam conhecer o motorista Elias Coutinho de Oliveira, de 41 anos, morador de São Gonçalo. O funcionário da Viação Mauá se sente tão à vontade ao volante que chega a confundir o ônibus com sua própria casa. Exagero? O amor à profissão, materializado diariamente pela cordialidade que dispensa aos passageiros, demonstra que não.
“Eu costumo brincar que o ônibus é a sala da minha casa, o parabrisa é o home-theater, os bancos são o meu sofá, as cenas reais e as paisagens que vemos são o filme. Aqui temos filmes de ação, comédia, suspense, drama e terror”, diverte-se Elias.
Filmado pelo bancário Beethoven Antunes Guimarães, de 52, num ponto de ônibus na Rua Doutor Porciúncula, na Venda da Cruz, ajudando uma idosa a embarcar no ônibus (conforme vídeo abaixo), o motorista acumula uma série de boas ações durante o trabalho que fazem jus ao apelido: Campeão.
“Eu sou assim com todos, mas confesso que quando vejo um idoso precisando de alguma ajuda, paro o que for para ajudar. Eu lembro dos meus pais e por eles eu ajo assim”, diz o filho do seu Herly e da dona Zeny.
Morador do Jardim Catarina e funcionário da Mauá há 13 anos, Elias é um dos 730 motoristas da empresa que enfrentam o trânsito caótico de São Gonçalo, as vias em péssimas condições, o mau humor de alguns passageiros e a violência urbana.
No trabalho de segunda a sexta-feira, das 14h às 21h, e nas escalas de fim de semana, os gêneros de “filmes” que passam diante dos seus olhos são variados. Mas a recompensa não é uma ficção. O profissional, que nasceu em Araruama e é pai de Érlon, de 13 anos, já recebeu mais de 20 cartas de agradecimento e inúmeras mensagens de passageiros no Fale Ônibus, canal de elogios, reclamações e sugestões da Mauá, além de mais de duas mil curtidas na página São Gonçalo Vai Mudar, no Facebook.
“Olha, eu não me sinto Campeão de coisa nenhuma, apesar dos tantos elogios que recebo pela conduta profissional no volante. Mas foi a partir de 2016 que comecei a acompanhar isso mais de perto. Mas é bom frisar que o meu dever como rodoviário é servir bem cada passageiro que entra na sala de estar da minha casa de quatro rodas. Como é bom receber tantas visitas”, agradece.
A paixão pela profissão foi herdada do pai, Herly, um ex-rodoviário. Elias ainda tem um irmão, Sandro, que é colega na empresa.
O motorista está casado há oito anos com Maria e é padastro de Breno. Ambos têm muito orgulho dele não só pelos elogios, cartas e mensagens nas redes sociais, mas por ser um exemplo de profissional e de chefe de família. Algo que só os campeões conseguem ser.