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quinta-feira, abril 25, 2024

ELEIÇÕES 2020 SG – Entrevista com a candidata Dayse Oliveira: “Quero combater a crise instaurada na cidade”

No terceiro dia da série de entrevistas com os prefeitáveis de São Gonçalo, o Lado de Cá conversa com a única mulher na disputa pelo cargo de chefe do executivo no município. A professora Dayse Oliveira tem 54 anos, a maioria deles dedicados à luta pela defesa dos direitos humanos e das minorias. Filiada ao Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), atua no movimento negro ‘Quilombo Raça e Classe’ e no ‘Movimento Mulheres em Luta’, dos quais é fundadora. Dayse quer combater a crise instaurada na cidade.

Lado de Cá – Por que a senhora quer ser prefeita de São Gonçalo?

Dayse Oliveira – Porque acredito que a classe trabalhadora e o povo pobre são os que realmente pagam pela crise instalada na cidade que, na realidade, é uma situação que ocorre em todo o mundo. Em meio a uma pandemia feroz, crise econômica mundial, desemprego recorde, os governos – todos eles – trataram de garantir que os ricos, grandes empresários e investidores, pudessem continuar lucrando em cima da exploração do trabalhador. Eles puderam fazer isolamento social, enquanto a maioria dos trabalhadores nunca parou de trabalhar. Ainda assim, há muitos que ficaram desempregados durante a pandemia, sem ter como alimentar suas famílias decentemente. Nós, trabalhadores, estamos cansados de ver esta situação se repetir nas crises capitalistas. Não acreditamos que a vida dos gonçalenses irá se resolver com as eleições municipais. Acreditamos que somente uma saída socialista e revolucionária pode resolver a crise e os problemas sociais crônicos de cidade e do país como um todo. Por isso, minha candidatura é para divulgar e construir uma alternativa socialista para a cidade, o país e o mundo. Eu defendo uma saída realmente radical em São Gonçalo. Essa saída não vai se dar pelas mãos de políticos de extrema direita, como Bolsonaro, Dejorge ou Capitão Nelson, nem pelos projetos fracassados e traidores do Partido dos Trabalhadores e seus aliados, como Dimas e Isaac Ricalde. Consideramos, também, ser de fundamental importância nesta campanha eleitoral, mesmo de caráter municipal, levantar a bandeira de Fora Bolsonaro e Mourão, para que a realidade nacional, estadual e municipal possam ser mudada de fato, em favor dos trabalhadores e setores oprimidos da sociedade.

Lado de Cá – Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), São Gonçalo é o segundo município mais populoso do estado do Rio de Janeiro, atrás apenas da capital. Caso eleita, como pretende enfrentar uma cidade com problemas em segurança pública, saúde, educação e habitação?

Dayse Oliveira – Além de ser o segundo município mais populoso do Estado do Rio de Janeiro é também uma cidade de população negra e periférica e que está encravada na região metropolitana. Entra governo, sai governo, e a vida dos gonçalenses só piora. Nós, que moramos aqui, sabemos disso. Faltam empregos, o percentual da população ocupada, segundo o IBGE, é de apenas 11%, o que nos coloca na posição 87 entre os 92 municípios do estado. O salário médio mensal é de 2,1 salários mínimos e 34,5% dos gonçalenses sobrevivem com uma renda per capta menor que meio salário mínimo. Um completo absurdo! Não dá mais para vivermos assim. Não se trata somente de uma questão de emprego e renda. No entanto, 19,6% dos domicílios da cidade não possui esgotamento sanitário adequado e apenas 28,7% das vias públicas são urbanizadas, ou seja, que possuem bueiro, calçada, pavimentação e meio-fio. A educação pública também passa por um forte processo de precarização. Os profissionais de educação da rede municipal de ensino recebem salários abaixo do piso nacional do magistério e as escolas passam por problemas sérios de estrutura. O acesso à saúde também é limitado. A rede de atendimento básico é insuficiente e praticamente não existe atendimento público de alta complexidade e para piorar, o município ainda sofre bastante com a pandemia do novo coronavírus. Sem tomar praticamente nenhuma medida que garantisse o isolamento social, a cidade virou símbolo de aglomeração na pandemia e já soma mais de 700 mortos. Somam-se aí as ações policiais nas favelas e comunidades, cada vez mais sanguinárias, que ceifam vidas pretas em nome de uma suposta guerra às drogas. Entendemos que cada uma destas necessidades imediatas da classe trabalhadora, seja por emprego, renda, saneamento, saúde, educação ou lazer, está intimamente relacionado à estrutura capitalista da sociedade. Por isso, nossas candidaturas estão comprometidas com a defesa de um programa socialista. É preciso confiar na auto-organização dos trabalhadores. Por isso, vamos impulsionar a formação de conselhos populares em cada bairro e comunidade, com poder de decisão sobre os problemas e o orçamento do município.

Lado de Cá – No site do PSTU existe um ranking das cidades com maior número de desemprego, no qual o município gonçalense ocupa a (triste) 87° posição (com apenas 11,3% de pessoas trabalhando) entre os 92 municípios do estado. Como a senhora pretender reverter esse quadro?

Dayse Oliveira – O desemprego é um problema estrutural da sociedade capitalista. O sistema depende disso para, por exemplo, poder rebaixar os salários dos trabalhadores em geral. Enquanto existir uma fila enorme de desempregados em nossa cidade, os patrões continuarão a nos tratar como peças descartáveis, com salários rebaixados e com muito assédio moral. O trabalhador, intimidado por esta situação, se vê obrigado a ‘aceitar’ estas condições desumanas. Portanto, o desemprego cumpre esta função fundamental dentro deste sistema perverso. A criação de emprego passa por direcionar os recursos que produzimos para o que realmente importa para nossas vidas como, por exemplo, por um grande plano de obras públicas necessárias para uma cidade como a nossa. Poderíamos construir escolas, hospitais, universidades, praças, infraestrutura de saneamento, locais para lazer, melhores vias, asfaltadas, enfim… tudo isso depende de muito trabalho humano. Somente os trabalhadores podem realizar estas tarefas. E de onde viriam os recursos para isso? Ora, há dinheiro na cidade, no entanto ele vai para manter os requisitos da lei de responsabilidade fiscal, para continuar mantendo os pagamentos da dívida da cidade com os bancos, que funcionam como verdadeiros agiotas e sugam nossos recursos. Além disso, há muito dinheiro que simplesmente é entregue aos grandes empresários por meio de isenções bilionárias. Sem falar também nos escândalos de corrupção que também drenam a riqueza da cidade para a burguesia corrupta e atrelada aos grandes empresários. Queremos romper com a Lei de responsabilidade fiscal, parar de pagar a dívida pública do município e promover uma auditoria para provar que a mesma já foi paga, implementar um imposto progressivo (os mais ricos pagam mais para os mais pobres pagarem menos), além de acabar com as isenções das grandes empresas e dos templos religiosos. Por fim, se todos os trabalhadores tivessem acesso ao trabalho, não precisaríamos todos trabalhar por longas jornadas extenuantes. Isto só seria possível em uma sociedade sem a exploração do trabalho, ou seja, não será no capitalismo.

Lado de Cá – O PSTU tem a senhora como candidata a prefeita, o historiador Roberto Baeta como seu vice e o servidor da UFF Raoni Lucena candidato a vereador. Na sua opinião, qual é a representatividade do partido em São Gonçalo?

Dayse Oliveira – Nosso partido está inserido nas lutas dos trabalhadores da cidade. Somos ainda um partido pequeno, no entanto, com décadas de história, muito combativo e com sólida presença nas organizações de luta dos trabalhadores, como nossa militância no SEPE (Sindicato Estadual de Profissionais de Educação) e na oposição sindical dos correios. Também fizemos parte do Comitê Contra a Reforma da Previdência de São Gonçalo, que protagonizou importantes atos na cidade entre 2017 e 2019. Como disse, não acredito que a mudança da cidade ocorrerá pelas mãos dos políticos que governam para burguesia da cidade, ela virá pelas mãos dos trabalhadores e não será pelas eleições. Será por meio da auto-organização dos trabalhadores, formando na cidade seus próprios fóruns de organização e decisão. Nós, do PSTU, trazemos isto como proposta. Um governo dos trabalhadores. Construir e apostar na força da classe trabalhadora. Não mentimos para população prometendo maravilhas aos trabalhadores dentro deste sistema apodrecido que é o capitalismo.

Lado de Cá – Qual a mensagem que a senhora quer deixar para os 1.091,737 gonçalenses?

Dayse Oliveira – Minha mensagem é que os trabalhadores acreditem nas suas forças para mudar sua realidade. E a mudança passa necessariamente pela destruição deste sistema que a cada dia nos leva para miséria, fome, desemprego e tantas mazelas que conhecemos. Somos nós, e não nossos patrões, que fazemos a engrenagem desta cidade se mover. Desde os ônibus que carregam as milhares de pessoas para o seu trabalho, passando pelos que produzem e preparam os alimentos, os que educam, o que limpam as ruas etc. Ou seja, os trabalhadores é quem têm a capacidade real para governarem seus destinos, segundo suas necessidades. No entanto, são os super ricos que decidem e desfrutam dessa riqueza que produzimos todos os dias. Somos um partido que reivindica o socialismo, que é algo muito diferente do que é dito sobre países como a Venezuela, Cuba, China e Coreia do Norte. Eles não são socialistas! Lutamos por um socialismo de verdade, com amplas liberdades democráticas para a classe trabalhadora. Por isto, apresentamos nestas eleições uma alternativa socialista a ser construída junto aos trabalhadores e as trabalhadoras, com a juventude, com os negros e negras oprimidos pelo racismo, com as mulheres, vítimas do machismo, com os LGBTs que sofrem com a LGBTfobia. Queremos um governo municipal que promova a auto-organização dos trabalhadores e setores oprimidos da população, para que eles tenham de fato poder para enfrentar e questionar as políticas que os governos e empresários querem impor à maioria da população, com base no sistema capitalista que eles defendem.

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