1990: A Copa mais sem graça de todos os tempos

Por Marcos Vinicius Cabral

Sonhar era preciso. O Mundial de 1990 era para ser o dos sonhos, repetindo a fórmula de 1986, em que era disputado por 24 seleções que jogariam em 12 estádios em cidades diferentes. Alguns recordes negativos, no entanto, nasceram nesta Copa do Mundo: a menor média de gols de um mundial (2,21), a maior quantidade de empates sem gols e 15 expulsões. Assim, sem pestanejar, foi a Copa mais chata de sua história.

Algumas equipes vinham para tentar ganhar o título, como a Holanda, que era a campeã europeia e contava com talentos, como Gullit, Koeman, Riijkaard e Van Basten. Havia Maradona na Argentina. A Itália, com craques como Roberto Baggio, Baresi, Maldini, e Toto Schillaci. Os alemães, que depositavam em Lothar Matthäus, Klinsmann e Völler todas suas fichas. E ainda havia Roger Milla, que poderia com habilidade levar o Camarões bem longe.

Logo na estreia, Camarões venceria a Argentina com Maradona em campo e tudo e se transformaria em sensação daquela Copa. Os camaroneses poderiam ter ido mais longe não fosse a falta de tradição em um torneio de tiro curto, como é a Copa do Mundo.

Os camaroneses acabaram eliminados nas quartas de final pela Inglaterra. A Argentina de Maradona, fora de sua melhor forma, custou a se classificar, o que só ocorreu na última rodada. Bateu o Brasil nas oitavas de final, passou pela Iugoslávia, nas quartas e ganhou nos pênaltis da Itália, na semifinal. Pela segunda vez, a Argentina chegava à final.

Já a Alemanha, com uma campanha brilhante na primeira fase, goleou a Iugoslávia por 4 a 1, os Emirados Árabes por 5 a 1 e empatou com a Colômbia, em 1 a 1.

Os alemães venceram a Holanda por 2 a 1, em um jogo muito tenso, nas quartas de final, ganhou da Tchecoslováquia por 1 a 0 e um 4 a 3 nos pênaltis contra a Inglaterra, depois de um empate por 1 a 1, foi o suficiente para colocar a Alemanha na final.

No Estádio Olímpico de Roma, 73 mil pessoas viram a Alemanha dar o troco na Argentina ao vencê-la por 1 a 0 e conquistar o tricampeonato.

Era Dunga – Uma Copa para esquecer. Foi exatamente nesse Mundial que o futebol-arte dava lugar ao futebol defensivo. Nascia ali, a Era Dunga, que tinha como comandante Sebastião Lazaroni.

A participação brasileira na Copa de 1990 foi a pior desde 1966. Contra adversários frágeis – Suécia, Escócia e Costa Rica – três vitórias magras e nas oitavas de final, a Argentina, seu principal adversário pela frente.

Mesmo com tantas chances perdidas e três bolas acertadas no trave, o Brasil anulou Maradona até onde deu. Em seu único lance de genialidade, um passe açucarado para Caniggia fazer o único gol da partida, após driblar Dunga, Alemão, Ricardo Rocha e Mauro Galvão.

A atuação convincente contra os argentinos, no entanto, não foi capaz de evidenciar a derrota dolorida e merecida que nos levou à reflexão que era necessário bons jogadores para conquistar um título Mundial e consequentemente o tetracampeonato.

Curiosidade – O arqueiro brasileiro Leão deixou de ser o recordista de minutos sem levar gols, pois o goleiro italiano Walter Zenga bateu o seu recorde e ficou 517 minutos sem ter suas redes estufadas. Somente Caniggia, aos 39 minutos do primeiro tempo da partida semifinal, conseguiu vazá-lo.

Fato histórico – Depois de 30 anos preso, Nelson Mandela foi libertado e recebido pelo povo. A África do Sul dava fim ao regime que assolava o país por muito tempo, o Apartheid.

País-sede – Itália

Classificação final –

Alemanha Ocidental – Campeã
Argentina – Vice-campeã
Itália – 3º lugar
Inglaterra – 4º lugar
Iugoslávia – 5º lugar
Tchecoslováquia – 6º lugar
Camarões – 7º lugar
Irlanda – 8º lugar
Brasil – 9º lugar
Espanha – 10º lugar
Costa Rica – 11º lugar
Bélgica – 12º lugar
Romênia – 13º lugar
Holanda – 14º lugar
Uruguai – 15º lugar
Colômbia – 16º lugar
Áustria – 17º lugar
Escócia – 18º lugar
União Soviética – 19º lugar
Egito – 20º lugar
Suécia – 21º lugar
Estados Unidos – 22º lugar
Coreia do Sul – 23º lugar
Emirados Árabes – 24º lugar

Mascote – Tentando transmitir o espírito e a paixão pelo futebol, o Ciao combinava a complexidade da sua geometria com a figura de um jogador com a cabeça em forma de bola e as cores italianas.

Artilheiro – Mesmo que muito tarde, o italiano Totó Schillaci – como era mais conhecido – despontou para o futebol e se consagrou em casa, marcando seis gols. Com 27 anos, alçou voos maiores e, após o Mundial, atuou em grandes times europeus e foi para o Japão, onde se aposentou.

Craque – Meia ou líbero, Matthäus era o responsável pela criação das jogadas alemãs e articulação do jogo defensivo e ofensivo ao mesmo tempo. Acabou se tornando líder de uma geração que tinha destaques, como os atacantes Klinsmann e Voeller. Já consagrado, foi eleito o melhor jogador do mundo pela revista inglesa Word Soccer, em 1990.

Frase – “A arte é um requinte que se pode usar a cada momento. No entanto só com arte não se ganha mais títulos”. (Sebastião Lazaroni, dando início à Era Dunga no futebol brasileiro)

Zebra – Logo na estreia, a Argentina com Maradona e tudo em campo foi surpreendida por Camarões e acabou perdendo por 1 a 0. No decorrer da competição, a seleção argentina se recuperou e chegou à final.

Bola – Três leões decorando os 20 triângulos do Tango foi a bola impermeabilizada pela primeira vez, em virtude de uma capa de espuma de poliuretano envolta de sua superfície.

Cobertura – O canal do homem do baú, o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), contratou nomes de peso para sua primeira transmissão de uma Copa do Mundo a fim de tentar desbancar a Rede Globo.

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