1954: Uma nova injustiça na Copa do Mundo

Por Marcos Vinicius Cabral

A intenção da Fifa – que completava seu 50° aniversário – era escolher um país de pequeno porte para sediar o Mundial de 1954. Coube à Suíça ser a escolhida. Com isso, o comitê organizador não repetiria os erros da Copa passada no Brasil e evitaria com isso ser alvo de muitas críticas. Mas não foi o que aconteceu. Das 16 seleções que pisariam nos gramados suíços, os cabeças de chave não se enfrentariam.

O efeito colateral foi imediato, pois se a intenção foi não repetir 1950, algumas seleções jogaram mais que outras, como ocorrera no Mundial passado. Países considerados grandes potências futebolísticas, estavam presentes na Suíça: Alemanha, Brasil, França, Inglaterra, Itália e Uruguai.

Mas nenhuma delas era considerada favorita como a Hungria, que contava com os talentos esporádicos Ferenc Puskás e Bozsik, além de ser a campeã olímpica em 1952. Em cada partida, os carimbos húngaros de seu amplo favoritismo eram dados.

Um 9 a 0 contra a Coreia do Sul e um 8 a 3 contra a Alemanha deixaram boquiaberto muita gente. Em seguida, a Hungria de Puskás e Cia passeou contra o Brasil e o Uruguai, com placar igual em ambos os jogos: 4 a 2.

Com recordes sendo quebrados, 90 minutos separavam a Hungria do título, que teria à frente uma Alemanha, completamente desacreditada e desesperançosa. Com um modesto 2 a 0 na Iugoslávia na primeira fase e um sonoro 6 a 1 na Áustria, nas quartas de final, o Estádio Wankdorf Stadion, em Berna, seria o palco do encontro das equipes.

Os 60 mil espectadores aguardavam ansiosamente por mais uma boa atuação da Hungria que, com o campo encharcado, sentiu o toque mágico da equipe ser engolido pelo vigor físico dos alemães.

Portanto, depois de uma longa invencibilidade – para ser mais exato quatro anos – a Hungria perdia o jogo mais importante de sua história em Copas do Mundo: 2 a 0 para a Alemanha. O milagre acontecia em Berna com o improvável titulo dos alemães.

Seleção Canarinho – Após o fiasco na Copa de 1950, o Brasil buscou bons resultados para extirpar possíveis culpados pela derrora em casa. A camisa branca seria a primeira providência a ser tomada, e sua aposentadoria foi vista com bons olhos.

Depois disso, uma reformulação se fez necessária, e a altivez fez o Brasil tropeçar nas próprias pernas. Apesar da boa primeira fase, provocações brasileiras atingiram em cheio os húngaros, que entraram para o confronto com os nervos à flor da pele.

O resultado foi um violento 4 a 2 para a Hungria, com direito à garrafada de Puskas em Pinheiro, episódio conhecido como Batalha de Berna e considerado até hoje como um dos jogos mais violentos de todas as Copas do Mundo.

Curiosidade – Um jovem gaúcho de apenas 19 anos, chamado Aldyr Garcia Schlee, foi o vencedor do concurso para a escolha do novo uniforme da Seleção Brasileira, criado pela CBD. A camisa amarela, o short azul e as meias brancas marcariam a estreia, com uma vitória contra o México por 5 a 0.

Fato histórico – Pela primeira vez, a televisão transmitiria um jogo de Copa do Mundo e veriam a vitória da Iugoslávia contra a França, por 1 a 0, na partida de estreia.

País-sede – Suíça

Classificação final –

Alemanha Ocidental – Campeão
Hungria – Vice-campeão
Áustria – 3º lugar
Uruguai – 4º lugar
Suiça – 5º lugar
Brasil – 6º lugar
Inglaterra – 7º lugar
Iugoslávia – 8º lugar
França – 9º lugar
Turquia -10º lugar
Itália – 11º lugar
Bélgica – 12º lugar
México – 13º lugar
Tchecoslováquia – 14º lugar
Escócia – 15º lugar
Coreia do Sul – 16º lugar

Artilheiro – O húngaro Sandor Kocsis, o famoso Cabeça de Ouro, ao 25 anos, marcou 11 gols e foi o artilheiro. Ao lado de grandes craques como Puskas, Bozsik, Hidegkuti e Czibor, formou uma das melhores seleções da história de seu país. Faltou-lhes apenas o título.

Craque – Com um pé esquerdo muito produtivo em jogadas de habilidade e passes, Ferenc Puskas foi capitão e destaque da equipe húngara. Mesmo sendo vice-campeão, foi eleito o melhor jogador da Copa de 1954.

Após ficar 18 meses suspenso pela Associação Húngara de Futebol, naturalizou-se por outra pátria e disputou a Copa seguinte pela Seleção Espanhola.

Frase – “O Brasil era covarde. Fizemos quatro gols nos momentos em que o jogo percorreu a normalidade. Nós éramos melhores e ganharíamos quantas vezes precisássemos.” (comentário de Kocsis da vitória da Hungria sobre a seleção brasileira)

Zebra – Após ficar quatro anos sem perder, a Hungria defendia uma invencibilidade em impressionantes 31 jogos. O campo pesado e o preparo físico foram determinantes para a derrocada húngara diante dos alemães.

Bola – Foi a primeira a ser fabricada com as dimensões padronizadas pela Fifa. A bola desta Copa tinha 18 gomos e cor alaranjada.

Cobertura – Enquanto as rádios brasileiras cobriram o evento diretamente da Suíça, o evento esportivo pós-guerra foi a primeira competição a ser transmitida para a TV.

 

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